
Tecnologia no Controle. A ignorância é uma maravilha…
Tenho me preocupado com o nosso excesso de acesso à tecnologia. O excesso que reconheço em mim, que reconheço nos movimentos diários e sutis dos meus filhos. Eles, que foram criados na zona sul da cidade, em casa, brincando no pátio. Pois bem, ela buscou eles devagarinho, e pouco a pouco, os suga para o mundo solitário e escuro da interação digital. Através das suas diversas interfaces, seus diversos disfarces.
Mãe, eu não estou no iPad, estou na TV, no Youtube! Mãe, preciso do teu telefone, minhas amigas te colocaram no grupo delas do whatsApp para falarmos! E assim vai. Não adiantou eu fugir, eu evitar. E eu, que trabalho com conteúdo, passo tempo nestes utilitários, basicamente entre o smartphone e o computador. Entre meus escritos e as publicações em redes sociais. E apesar de conscientemente em choque com muito que assisto se multiplicar nas redes, como os papos terroristas quanto ao futuro e os novos tempos e o abuso travestido de liberdade de expressão, utilizo os meios para expandir os meus trabalhos e me informar. E observar as pessoas e seus comportamentos, o que também me absorve.
Enfim, estamos sendo engolidos por esta dependência nova a qual ainda não conhecemos realmente os efeitos. Que medo…
Celulares no Controle
Li na Você S/A de outubro uma matéria sobre os celulares estarem no controle. Pessoas estão adoecendo por causa do excesso de conectividade e se tornando dependentes da tecnologia. Várias pesquisas mostram que estar 100% do tempo online auxilia no surgimento de doenças como ansiedade, depressão, estresse, déficit de atenção e até transtorno obsessivo compulsivo. A dependência, conforme pesquisas trazidas nessa matéria, afirma que hormônios produzidos por essa dependência inibe neurônios, resulta em nervosismo, insônia e falta de foco. Opa, tocamos em algo realmente relevante. É assim que queremos ver as nossas equipes, nossos parceiros de projetos, nossas famílias?
É preciso compreender que os smartphones, os aplicativos, as redes sociais, tablets e notebooks são viciantes e prejudicam a nossa produtividade e criatividade. O que é péssimo para os negócios, para a carreira. E para as relações interpessoais, eu completo. É uma questão de tempo, e o efeito, já claro em alguns ambientes, será realmente preocupante e tratado como uma doença.
Algumas empresas, como a desenvolvedora de softwares DB1, que possui 350 funcionários, já estão olhando o problema com atenção. Além de não permitir que alguém trabalhe após às 20 horas, quando o escritório fecha, a empresa restringiu o acesso remoto aos computadores corporativos. Os especialistas explicam que os e-mails, por poderem ser acessados de qualquer lugar, geram a sensação de sobrecarga, de trabalho contínuo, inibindo a capacidade de desconexão psicológica.
Liderança pelo Exemplo
A luta contra o excesso passa pela educação digital. As pessoas usam o celular em qualquer lugar e situação, pessoal ou profissional, sem a menor sensação de estarem sendo inconvenientes. De que isso atrapalha o sono, o trabalho e as relações. Por isso achei interessante abordarem a importância do exemplo do bom uso da tecnologia vir dos líderes. Aqui falo nos ambientes de trabalho, mas consigo tranquilamente transportar esta atitude para os ambientes pessoais, de família. Começa pelo líder desses ambientes não estar com seu smartphone sempre a postos, a frente das pessoas, das conversas, das metas.
Começa com estar realmente presente. Sem qualquer outra conexão que não seja o foco daquele momento. Na reunião, no feedback, no trato de uma crise, na conversa com um filho. Se trata de estar para as coisas. Com foco, com energia. Se trata de educação. Não se acessa um aparelho quando alguém está falando com você ou quando você faz parte de uma reunião de pessoas para as quais a sua contribuição é importante.
Porque os dados que a matéria traz e sobre os quais refletimos aqui mostram que estamos nos transformando na geração da superficialidade. Que a atenção é um ativo precioso demais para ser negligenciado. E que, sem viver as coisas por inteiro, fica impossível criar as memórias de longo prazo, aquelas que realmente se enraízam e com as quais podemos contar para concatenar uma informação com outra, solucionar problemas e ter novas ideias.
Melhor começarmos a refletir profundamente sobre o que queremos para nós. Pessoas, empresas e famílias. E tratar os aparelhos de conexão digital apenas como objetos, com atribuições importantes, mas coisas. Que é o que realmente eles são.
Juliana Silveira é criadora do blog New Families, onde escreve semanalmente com um olhar de sensibilidade única sobre o recomeço da família após o divórcio. É também autora do livro Divórcio: A Construção da Felicidade no Depois.